Friday, July 29, 2005

Post 12

Apreciava o facto de não acordar sozinho mais uma manhã. A solidão é fodida. Apesar de deitado ao lado de uma mulher tão bonita como a Ana, a sua mente viajava no passado até aquela noite de sexo louco. Não conseguia não pensar na Monika. Voltou a adormecer...
Reabriu lentamente os olhos...
-Bom dia, - disse Ana.
Ele respondeu com um pequeno sorriso.
-Sabes, estava a observar-te e tu quando dormes... não estás aqui comigo. Aliás, até tenho dúvidas se quando tas de olhos abertos tás aqui...
-Ana,... eu estou aqui.
-Não estás não. E ontem enquanto me penetravas não eras tu.
-Então era quem? O rato Mickey? Por favor, não tenho pachorra para essas merdas... ainda por cima a um sabado de manha.
-Desculpa... tens toda a razão. Não tens culpa de eu estar completamente apaixonada por ti e não me importar de assisitir as tuas necessidades fisiológicas e dar-te umas quecas para te aliviar o stress... porque é isso que sou para ti... uma Queca! Mais uma...
-Ana, a esta hora não por favor... além disso sabes tão bem quanto eu que gosto de estar contigo e que és uma pessoa especial... mas...
-Especial? Sou especial? Claro que sou especial! Sou uma excepção que se destaca pelas grandes mamadas que te faço e pelo tempo que te faço vir...
-Não foi isso que disse...
-Mas é isso que te faz estar próximo de mim. Apenas sexo. Sabes quantos anos tenho, o meu nome completo, o porque desta cicatriz, sabes do que gosto mais de fazer na vida, quais os meus sonhos? Sabes porque é que tu es especial para mim? Sabes?
-Não...
Ela levantou-se e vestiu-se num abrir e fechar de olhos.
-Fica Ana. Por favor. Não me apetece estar sozinho. Tens 26 anos. Chamas-te Ana Maria a cicatriz não sei... sonhos também não.
-Tenho 27. Fiz anos ontem. Chamo-me Ana Maria sim, mas esse não me parece que seja o meu nome completo.
-Tu também não sabes essas coisas sobre mim... não percebo porque é q estas a stressar tanto.
-Chamaste Henrique Almeida. Henrique porque o teu pai é monarca e todos os teus irmãos têm nomes de rei: Afonso, Henrique e Duarte. Nasceste em Lisboa há 28 anos atrás. Completas 29 anos daqui a exactamente 2 meses. Essa tatuagem que trazes nas costas foi fruto de um acto impensado de amor nas tuas primeiras férias ao estrangeiro. Tinhas 18 anos e se não me engano foste para Londres. O que mais queres da vida, como qualquer um de nós é a felicidade e não tenho dúvidas que queres ser reconhecido no mundo das artes... pintura é o teu maior hobby... guardas naquela gaveta uma carta que a tua irmã Maria te escreveu antes de morrer, carta essa que só leste uma vez na vida porque não tens tomates para enfrentar as coisas, as realidades... Aquele quadro é o teu autoretrato: confuso, solitário e perdido no mundo. Orgulhoso demais para aceitar uma mão que te quer ajudar apenas a enfrentar as coisas.
Apetecia-lhe acaricia-la.
-Ana..
-E se te sentes sozinho... arranja um cão.
E saiu sem mais uma palavra. Ele sabia perfeitamente porque ele era especial para ela. Sabia dos sentimentos que ela sentia por ele... Nunca o transmitira através de palavras, mas sempre através de gestos e atitudes. Era ela que estava sempre lá quando ele se sentia sozinho... que lhe fazia companhia quando estava doente... que o olhava sem mentiras. Ela era realmente uma pessoa especial... uma mulher que qualquer homem gostava de ter a seu lado. Mas nós não escolhemos o quê e quando sentir... Levantou-se da cama e murmurou para ele:
-Foda-se... anda meio mundo à procura de meio mundo e ninguém se encontra...

7 comments:

particula said...

Tristemente divino!

(in)confessada said...

"Foda-se... anda meio mundo à procura de meio mundo e ninguém se encontra..." - a dura realidade.

bjo confesso

Bárbara said...

Espelho...

É sempre assim, qdo amamos alguém sabemos td dessa pessoa, até akilo que ela tenta esconder de si mesmo!!!

Adorei...

Bjo

agent provocateur said...

fiquei arrepiado... não são muitos textos que me fazem isso.

BB said...

Fabuloso!

Angelica said...

muito triste mesmo....

Raquel Vasconcelos said...

Não tenho acompanhado a história mas detive-me neste post. Não ia dizer nada mas acho que merece que seja dito, exactamente pq eu por norma fujo aos diálogos pela dificuldade de os tornar tão demostrativos de todo um contexto.
Muito bons. Gostei do Post.

(Raquel V.)